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terça-feira, 26 de outubro de 2010

Ângelo Pezzuti

Ângelo Pezzuti da Silva
Militante da VANGUARDA POPULAR REVOLUCIONÁRIA (VPR).


Angelo Pezzuti da Silva, nasceu em Araxá, Estado de Minas Gerais, no dia 27 de abril de 1946, filho de Carmela Pezzuti e Theofredo Pinto da Silva.


Cursou o primário no Grupo Escolar “Delfim Moreira” e o ginasial no Colégio “Dom Bosco”, ainda em sua cidade natal. O curso científico, foi feito já em Belo Horizonte, no Colégio “Padre Machado”. lngressou na Faculdade de Medicina da UFMG, em 1964, onde permaneceu até 1968, optando por se especializar em Psiquiatria.


Ângelo tinha um temperamento alegre e extrovertido. Gostava de fazer amizades e cultivá-las.


Desde criança desenvolveu o gosto pela leitura e pelos estudos. Ainda cursando o primário, dedicou-se ao estudo de piano durante 2 anos. O gosto pela música clássica, pela poesia, pelo teatro e pela leitura, principalmente dos autores regionais brasileiros mais intelectualizados e clássicos, acompanhou-o sempre.


Possuía grande fluência verbal, o que facilitava a exposição de suas idéias. Vivia intensamente, como se o momento presente fosse o mais importante. Era senhor de uma ternura especial, mesclada de um certo ar irônico.


Sua militância política iniciou-se, efetivamente, no Colégio Padre Machado, onde participou do curso de alfabetização de adultos. Aí também já sofreu os primeiros “cortes”: foi eleito Presidente da Associação de Alunos e Diretor do Curso de Alfabetização, mas seu nome foi vetado pelo Diretor do Colégio, pelas suas posições políticas de esquerda e questionamentos religiosos.


Na Faculdade de Medicina, de imediato integrou-se ao movimento de estudantes que visava a ampliação de vagas na Universidade Federal de Minas Gerais e a absorção dos chamados “excedentes”. Sua participação seguiu-se no Centro de Estudos de Medicina – CEM, no Diretório Acadêmico, e no “Show Medicina”. Em todas as frentes, lá estava o Ângelo participando.


Em busca de outras alternativas políticas, ingressou na Política Operária (POLOP) e, em 1967, juntamente com outros companheiros (Apolo Heringer e Carlos Alberto Soares de Freitas) constituíram a primeira direção do COLINA (Comando de Libertação Nacional) que tinha como objetivo a luta armada como instrumento de transformação social. Sempre esteve à frente dos grandes projetos da Organização – foi uma liderança intelectual, e participou das primeiras ações armadas desde 1968.


Em 13 de janeiro de 1969 foi preso pelo DOPS, em Belo Horizonte. Inaugura-se, aí, um tempo de passagem por várias prisões: em Belo Horizonte, no Rio de Janeiro e, depois, retornando a Minas, sendo levado para a prisão de Linhares, em Juiz de Fora.


Sofreu, nesta trajetória, vários tipos de tortura física e psicológica. Entretanto, o que mais marcou foi a obrigação de assistir, na Vila Militar do Rio de Janeiro, a uma aula de tortura ministrada pelo Exército para 100 oficiais, onde alguns presos serviam de cobaia e, dentre os presos-cobaias, estava seu próprio irmão, Murilo. Estas aulas eram dadas por diversos torturadores, entre eles o contraventor “Capitão Guimarães”.


Juntamente com outros companheiros de Linhares, elaborou o “Documento de Linhares” denunciando as torturas e suas conseqüências dentro das prisões. Este foi o primeiro documento, no gênero, elaborado no Brasil e encaminhado às autoridades brasileiras que ignoraram o seu conteúdo. Foi amplamente divulgado no exterior.


Em 1970, Ângelo foi banido do país, trocado juntamente com outros 39 companheiros, inclusive seu irmão Murilo, pelo Embaixador Alemão. Ficaram exilados na Argélia.


Em 1971 foi para o Chile, onde se encontrou com sua mãe Carmela, também banida do Brasil por suas atuações políticas. E aí casou-se com Maria do Carmo Brito, com quem teve seu único filho, Juarez, que está com 23 anos cursando Ciências Biológicas na UNICAMP. Carmela vive hoje em Belo Horizonte sendo, ao lado de sua irmã Ângela, os maiores símbolos da fibra desta família na resistência à ditadura.


Em 1972, por seus contatos com grupos chilenos que lutavam pelo socialismo, foi preso e torturado por policiais brasileiros que lá se encontravam, sendo libertado logo em seguida.


Ainda no Chile, batalhou para provar a infiltração do cabo Anselmo nos meios revolucionários brasileiros, tentando convencer os companheiros que Anselmo era um traidor e responsável por várias quedas e mortes.


Em seguida, veio o golpe chileno, o que o levou a pedir asilo na embaixada do Panamá. Sua permanência no Panamá foi curta, indo para a França, onde logo se integrou ao Comitê Brasileiro cujo objetivo era obter asilo na Europa para outros companheiros brasileiros, chilenos, uruguaios que estavam em situação irregular na América Latina. Com esse objetivo, viajou pela Europa fazendo contatos com as entidades de Direitos Humanos.


Em Paris, participava de um grupo de estudos que analisava o movimento his-tórico da América Latina e de grupos de apoio aos presos no Brasil.


Por duas vezes – a primeira no Chile e a segunda na França – Ângelo retornou aos seus estudos de Medicina, conseguindo formar-se, em Paris, em meados de 1975, como Psiquiatra.


No dia 11 de setembro de 1975, Ângelo morreu em um acidente de motocicleta em Paris. Seu corpo foi cremado no Cemiterio Père Lachese onde estão os maiores heróis franceses e, em 1976, trazido para o Brasil. Suas cinzas foram colocadas no Cemitério das Paineiras em Araxá, sua terra natal.


Sobre sua morte, seu amigo Herbert Daniel escreveu:


“... não saberemos se foi seu gosto pela ironia que determinou a escolha da data, aniversário do golpe do Chile. Ângelo escapou da cadeia no Brasil, escapou do golpe no Chile; mas não escapou da sua ânsia de viver demais. Não viveu para ver nenhum resultado. Este é o resumo brutal de todas as mortes provisórias...”


Fonte: http://www.torturanuncamais-rj.org.br/MDDetalhes.asp?CodMortosDesaparecidos=169

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