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terça-feira, 26 de outubro de 2010

Chico Buarque fala sobre a ditadura

documentário ditadura chico

Abaixo Assinado - Abertura de Arquivos Ditadura - Fernanda Montenegro

Sônia Maria de Moraes Angel Jones

 

Militante da AÇÃO LIBERTADORA NACIONAL (ALN).

Nasceu em 9 de novembro de 1946, em Santiago do Boqueirão, Estado do Rio Grande do Sul, filha de João Luiz Moraes e Cléa Lopes de Moraes.

Foi morta aos 27 anos em 1973, em São Paulo.

Estudou no colégio de Aplicação da antiga Faculdade Nacional de Filosofia e, posteriormente, na Faculdade de Economia e Administração da UFRJ, mas não chegou a se formar, sendo desligada pelo Decreto nº477, de 24 de setembro de 1969.

No Rio, trabalhava como professora de Português no Curso Goiás.

Casou-se, em 18 de agosto de 1968, com Stuart Edgar Angel Jones, militante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8).

Em 1° de Maio de 1969, foi presa por ocasião das manifestações de rua na Praça Tiradentes/RJ com mais três estudantes, levada para o DOPS e, posteriormente, para o Presídio Feminino São Judas Tadeu. Somente foi libertada em 6 de agosto de 1969, quando foi julgada e absolvida por unanimidade pelo Superior Tribunal Militar. Passou a viver na clandestinidade.

Em maio de 1970 exilou-se na França, onde se matriculou na Universidade de Vincennes e, para se sustentar, trabalhou na Escola de Línguas Berlitz, em Paris, onde lecionava Português.

Com a prisão e desaparecimento de Stuart pelos órgãos brasileiros de repressão política, Sônia decidiu voltar ao Brasil para retomar a luta de resistência. Ingressou na ALN e viajou para o Chile, onde trabalhava como fotógrafa. Posteriormente, em maio de 1973, retornou clandestinamente ao Brasil, indo morar em São Paulo. Em 15 de novembro de 1973 alugou um apartamento em São Vicente, junto com Antônio Carlos Bicalho Lana, com quem se unira. Seu apartamento passou a ser vigiado, sendo presa, juntamente com Antônio Carlos, no mesmo mês, por agentes do DOI-CODI/SP, tendo o II Exército divulgado a notícia de que morrera, após combate, a caminho do hospital (O globo 1º de dezembro de 1973).

Foi assassinada sob torturas no dia 30 de novembro de 1973, juntamente com Antônio Carlos Bicalho Lana.

A autópsia assinada pelos legistas Harry Shibata e Antônio Valentine, apenas descreve as perfurações das balas, sem nada mencionar das torturas sofridas. Afirmam que o crânio sofreu corte característico da autópsia e que examinaram detidamente o corpo.

Durante quase vinte anos a família investigou os fatos relacionados à prisão, tortura e assassinato de Sônia e Antônio Carlos.

Como resultado dessas investigações, a família produziu o vídeo “Sônia Morta e Viva”, dirigido por Sérgio Waismann.

A prisão do casal, em São Vicente, foi detalhadamente planejada, como constatou sua família, durante as investigações junto aos empregados do prédio em que Sônia e Antônio Carlos moravam. Ela costumava, assim que se mudou, tomar banho de sol numa prainha ligada ao prédio e, desde então era observada de um prédio próximo por agentes policiais, através de uma luneta. Dias depois, os mesmos agentes comunicaram aos empregados do prédio que moravam ali dois terroristas muito perigosos e para justificar tal afirmativa “empregaram-se” como funcionários do prédio e passaram a observá-los mais de perto. Certa manhã, bem cedo, quando Antônio Carlos e Sônia pegaram o ônibus da Empresa Zefir, já havia dentro do ônibus alguns agentes, inclusive uma senhora vestida de vermelho. Ao mesmo tempo, nas imediações da agência do Canal 1, São Vicente, já se encontravam vários agentes à espera de que um deles, pelo menos, descesse para adquirir passagens, pois as mesmas não eram vendidas no ônibus. Até hoje, a família não pôde precisar o dia exato da prisão, possivelmente num sábado, depois do dia 15 de novembro, fato este testemunhado por Celso Pimenta, motorista do ônibus, e Ozéas de Oliveira, vendedor de bilhetes, ambos da Agência Zefir.

Existem duas versões a respeito da prisão, tortura e assassinato de Sônia e Antônio Carlos.

A versão do primo do pai de Sônia, coronel Canrobert Lopes da Costa, ex-comandante do DOI-CODI de Brasília, amigo pessoal do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, comandante do DOI-CODI de São Paulo: depois de presa, do DOI-CODI de São Paulo foi mandada para o DOI-CODI do Rio de Janeiro, onde foi torturada, estuprada com um cassetete e mandada de volta a São Paulo, já exangüe, onde recebeu dois tiros.

A versão do Sargento Marival Chaves, membro deo DOI-CODI/SP: Sônia e Antônio Carlos foram presos e levados para uma casa de tortura na Zona Sul de São Paulo onde ficaram de cinco a dez dias, até morrerem, dia 30 de novembro de 73 e foram colocados, no mesmo dia, à porta do DOI-CODI/SP, para servir de exemplo. Ao mesmo tempo, foi montado um “teatrinho” – termo usado pelo sargento – para justificar a versão oficial de que foram mortos em conseqüência de tiroteio, no mesmo dia 30 (metralharam com tiros de festim um casal e os colocaram imediatamente num carro).

Versão oficial publicada dia 1° de dezembro de 1973 em dois jornais: “O Globo” e “O Estado de São Paulo”: Morte de Sônia e Antônio Carlos, a caminho do Hospital, após tiroteio em confronto com os agentes de segurança, na Avenida de Pinedo, no Bairro de Santo Amaro, cidade de São Paulo, altura do n° 836, às 15 horas.

No arquivo do antigo DOPS/SP foi encontrado um documento da Polícia Civil de São Paulo-Divisão de Informações CPI/DOPS/SP que diz: “Consta arquivado nesta divisão uma cópia xerográfica do Laudo de Exame Necroscópico referente à epigrafada com data de 20 de novembro de 1973.” (Teve o laudo assinado antes de morrer?).

Apesar de haverem identificado Sônia Maria, os seus assassinos enterraram-na, como indigente, no Cemitério Dom Bosco, em Perús, sob o nome de Esmeralda Siqueira Aguiar. A troca proposital do nome de Sônia, demonstra a clara tentativa dos órgãos de repressão em esconder seu cadáver. A família de Sônia conseguiu obter através de processo de número 1483/79 na 1ª Vara Civil de São Paulo, a correção de identidade e retificação do Registro de Óbito.

Oficialmente morta, a família pôde transladar seus restos mortais para o Rio de Janeiro, em 1981.

Em 1982, na tentativa de apuração das reais circunstâncias da morte de Sônia, através de processo movido contra Harry Shibata, médico do IML/SP que atesta sua morte (inclusive assinando o atestado de óbito sob o nome falso e o laudo com nome verdadeiro), o IML/RJ constatou que os ossos entregues à família, enterrados no Rio de Janeiro, eram de um homem.

Para sepultar dignamente os restos mortais de Sônia, a família teve que fazer várias exumações, que chegaram a seis. A última exumação apresentava um crânio, sem o corte característico de autópsia e a família não aceitou os restos mortais, por desconfiar que seria mais um engano do Instituto Médico Legal de S. Paulo.

Em um de seus depoimentos à CPI realizada na Câmara Municipal de S. Paulo, Harry Shibata declarou que a descrição feita no laudo necroscópico de que houve corte de crânio, não corresponde à verdade, uma vez que essa descrição é apenas uma questão de praxe. Assim declarando, assumiu a farsa com que eram feitos os laudos.

Após serem identificados pela UNICAMP, seu restos mortais, finalmente, foram trasladados para o Rio de Janeiro no dia 11 de agosto de 1991.

De seu pai, o Tenente-Coronel da Reserva do Exército Brasileiro e professor de matemática, João Luiz de Morais:

“Sônia Maria Lopes de Moraes, minha filha, teve seu nome mudado após o seu casamento com Stuart Edgar Angel Jones, para Sônia Maria de Moraes Angel Jones. Ambos foram torturados e assassinados por agentes da repressão política, ele em 1971 e ela em 1973. Minha filha foi morta nas dependências do Exército Brasileiro, enquanto seu marido Stuart Edgar Angel Jones foi morto nas dependências da Aeronáutica do Brasil.Tenho conhecimento de que, nas dependências do DOI-CODI do I Exército, minha filha foi torturada durante 48 horas, culminando estas torturas com a introdução de um cassetete da Polícia do Exército em seus órgãos genitais, que provocou hemorragia interna.

Após estas torturas, minha filha foi conduzida para as dependências do DOI-CODI do II Exército, local em que novas torturas lhe foram aplicadas, inclusive com arrancamento de seus seios. Seu corpo ficou mutilado de tal forma, a ponto de um general em São Paulo ter ficado tão revoltado, tendo arrancado suas insígnias e as atirado sobre a mesa do Comandante do II Exército, tendo sido punido por esse ato. Procedi a várias investigações em São Paulo, visando a aferição desses fatos, inclusive tentando manter contato, porém sem êxito, com esse General, tendo tido notícia de que o mesmo sofrera derrame cerebral, estava passando mal e de que sua família se opunha a qualquer contato e a qualquer referência aos fatos relativos a Sônia Maria.

As informações sobre as torturas, o estupro, o arrancamento dos seios de Sônia Maria e os tiros, me foram prestadas pessoalmente pelo coronel Canrobert Lopes da Costa e pelo advogado Dr. José Luiz Sobral. Minha filha, em sua militância política, utilizava o nome de Esmeralda Siqueira Aguiar. Em 1° de dezembro de 1973, ao ler no Jornal “O Globo” vi uma notícia sobre Esmeralda Siqueira Aguiar. Viajei imediatamente em companhia de minha mulher Cléa, de minha cunhada Edy, de minha outra filha, Ângela, e de meu futuro genro, Sérgio, para a cidade de São Vicente, dirigindo-me diretamente para a Rua Saldanha da Gama, 163, apto. 301, local onde residia Sônia Maria. Ao chegar a esse local, à noite, encontrei-o ocupado por alguns homens, em torno de 5 (cinco) ao que me recordo, membros das Forças da Segurança. Ao me recusar entregar minha carteira de identidade, cheguei a ser agredido. Após ter sido agredido, ameaçado de ser atirado do 3°andar e de ser metralhado por esses homens, consegui comunicar-me com o superior-de-dia do II Exército, em São Paulo, quando então, após identificar-me como Tenente-Coronel, consegui deste uma determinação por telefone diretamente a um dos 5 membros das Forças da Segurança, que me libertassem, mediante o compromisso de dirigir-me para um hotel em São Paulo, onde fiquei juntamente com minha mulher à disposição do II Exército e no dia seguinte prestei depoimentos no DOI-CODI.

Durante esse depoimento, indaguei aos interrogadores a respeito do paradeiro do corpo de minha filha, sendo que um destes respondeu que o corpo só poderia ser visto com a autorização do Comandante do II Exército.

Na tarde desse mesmo dia, viajei para o Rio de Janeiro em companhia de minha mulher para conversar com meu amigo, General Décio Palmeiro Escobar, Chefe do Estado Maior do Exército, já falecido, o qual me deu uma carta para ser entregue ao General Humberto de Souza Mello, carta essa em que o General Décio pedia “ao ilustre companheiro e amigo” que me liberasse, assim como minha mulher, de São Paulo, pois necessitávamos permanecer no Rio, onde dirigíamos um Colégio, bem como fosse liberado o corpo de Sônia para um sepultamento cristão.

Regressando a São Paulo em companhia de minha mulher, no dia seguinte, dirigi-me ao Quartel do II Exército para entregar a mencionada carta, sendo certo que o General Humberto não quis receber-me, e a carta foi levada pelo então Coronel Hugo Flávio Lima da Rocha, que, ao voltar do gabinete do General, deu a seguinte resposta: “o General manda te dizer que, por causa desta carta, você está preso a partir deste momento” e, como seu velho companheiro de Realengo, faço questão de, pessoalmente, levá-lo para o Batalhão da Polícia do Exército. No Batalhão da Polícia do Exército, fiquei preso durante 4 (quatro) dias, vindo a ser liberado, sem maiores explicações mas com a recomendação de que “regressasse ao Rio, nada falasse, não pusesse advogado e aguardasse em casa o atestado de óbito de Sônia que seria remetido pelo II Exército e, quanto ao corpo, não poderia vê-lo pois havia sido sepultado”.

Somente decorridos muitos anos pude entender minha prisão, ou seja, naqueles dias Sônia Maria ainda estava viva e sendo torturada e, na medida em que era mantido preso, era possível evitar minha interferência, ao mesmo tempo que, com essa prisão, buscavam amedrontar toda a família.

Apesar do desespero, das ameaças e do conseqüente apavoramento, a família continuou insistindo em conhecer os detalhes sobre a morte de Sônia Maria e, nessa procura, o referido advogado, José Luiz Sobral, que se dizia amigo comum da família e do General Adir Fiúza de Castro, então Comandante do DOI-CODI do Rio de Janeiro, prontificou-se em obter esclarecimentos diretamente com esse General. O Dr. José Luiz Sobral, ao retornar das dependências do DOI-CODI do I Exército, claudicava um pouco, e insinuava ‘ter levado umas cassetadas’, trazendo-me um presente inusitado: um cassetete da Polícia do Exército, mandado pessoalmente pelo General Fiúza para a família, com a recomendação que não falasse mais sobre o assunto, pois ‘todos estavam falando demais’.

Na ocasião, a família guardou o cassetete sem lhe dar maior importância e só recentemente, há uns 2 (dois) anos, é que pude fazer a interligação dos acontecimentos, ou seja, conclui estarrecido que o verdadeiro significado desse presente é que o mesmo General Fiúza nos enviava, como advertência, o próprio instrumento que provocara a morte de Sônia Maria. Este cassetete se encontra em meu poder, podendo ser apresentado a qualquer tempo.

A partir da morte de Sônia, todo final de semestre, nas Declarações de Herdeiros que prestava ao Ministério do Exército, colocava Sônia Maria Lopes de Moraes como minha herdeira, assinalando sempre que ‘presumivelmente morta pelas Forças de Segurança do II Exército, deixo de apresentar a certidão de óbito porque não me foi fornecida ainda pelo II Exército, conforme prometido’. Essas declarações causavam mal-estar entre os militares, tendo sido aconselhado pelo chefe da pagadoria do Exército a requerer a certidão diretamente ao Comandante do II Exército. Apresentado o requerimento, em setembro de 1978, recebi uma correspondência onde o General Dilermando Gomes Monteiro, então Comandante do II Exército, afirmava que ‘não cabe ao II Exército fornecer o atestado solicitado. No Cartório de Registro Civil do 20° Sub Distrito - Jardim América/SP, foi registrado o óbito de Esmeralda Siqueira Aguiar, filha de Renato A. Aguiar e de Lucia Lima Aguiar. O requerente procure o Cartório em causa, se assim o desejar.’ O documento acrescentava, ainda, que ‘mandara retirar do Cartório referido, por pessoa indiscriminada, uma certidão de óbito registrada, que fora fornecida sem qualquer problema’. A referida correspondência, subscrita pelo Comandante do II Exército, foi o primeiro reconhecimento oficial da morte de Sônia Maria. Apesar de ter requerido o atestado de óbito em nome de Sônia Maria Lopes de Moraes, a resposta do Comandante do II Exército foi a entrega de uma certidão de óbito em nome de Esmeralda Siqueira Aguiar. Tempos depois da entrega desse atestado de óbito, tomei conhecimento de um outro documento, ‘Auto de Exibição e Apreensão’, datado de 30 de novembro de 1973, em cujo verso há uma nota do DOI-CODI do II Exército, onde, no final, consta um ‘em tempo: material encontrado em poder de Esmeralda Siqueira Aguiar, cujo nome verdadeiro é Sônia Maria Lopes de Moraes.

No Cemitério de Perus, consegui encontrar o registro de sepultamento de Esmeralda Siqueira Aguiar, na Quadra 7, Gleba 2, Terreno 486, com algumas rasuras, em datas principalmente. Nessa oportunidade, os ossos de Sônia não podiam ser exumados porque estava sepultado na parte de cima um outro cadáver. Tivemos que aguardar ainda 3 (três) anos para a pretendida exumação, ocorrida em 16 de maio de 1981. Nessa ocasião reclamei das divergências existentes entre o que constava do laudo assinado pelos legistas Harry Shibata e Antônio Valentine e a realidade da ossada retirada, pois, ao contrário do que constava nesse laudo, o crânio que seria o de Sônia não apresentava nenhum orifício de entrada ou saída de projétil de arma de fogo e estava inteiro. Apesar dessas discrepâncias, levamos os ossos para o Rio de Janeiro, sepultando-os no Cemitério Jardim da Saudade, mais precisamente no Lote 18874, Espaço B, Setor IV, e, durante um ano, todos os sábados, juntamente com minha mulher, ia ao Cemitério e levava flores em homenagem a minha filha.

Além da ação proposta na I Vara de Registros Públicos para retificação de identidade, intentamos outra na Auditoria Militar de São Paulo, pleiteando a abertura de IPM para averiguar as verdadeiras causas da morte de minha filha, bem como a falsidade da certidão e laudo assinados por Harry Shibata e Antonio Valentine. Esse processo, na Auditoria Militar, teve seu curso normal até que o Comandante da II Região Militar, General Alvir Souto se negou a cumprir determinação do Juiz para a abertura de IPM, alegando insuficiência de provas.

Nessa ocasião a Juíza Dra. Sheila de Albuquerque Bierrembach determinou a exumação dos restos mortais sepultados no Cemitério Jardim da Saudade, bem como o seu exame pelo IML do Rio de Janeiro, constatando esse Instituto que aquela ossada não pertencia a Sônia, mas sim a um homem, negro, de aproximadamente 33 anos de idade.

Diante do estranho resultado dessa última exumação, a mesma Juíza Sheila Bierrenbach determinou que se fizessem, no Cemitério de Perus, tantas exumações quantas fossem necessárias até serem encontrados os restos mortais de Sônia Maria. Nessa busca, participei juntamente com minha mulher, familiares e amigos ainda de mais 4 exumações nesse mesmo Cemitério de Perus. Terminada a última dessas exumações foi encontrada uma ossada, que poderia ser a de Sônia. Porém, o crânio encontrado também não estava seccionado e os orifícios de entrada e saída de projéteis não coincidiam inteiramente com o laudo. Não tínhamos então a ficha dentária de Sônia, que havia sido perdida por seu dentista no Rio de Janeiro, Dr. Lauro Sued. Não tínhamos elementos de convicção para aceitar aqueles restos mortais como sendo os de Sônia e, por isso, tentamos impugnar as conclusões do IML de São Paulo, apresentando 11 quesitos e 10 fotografias do crânio de Sônia quando esta tinha 11 anos de idade. A juíza, Dra. Sheila, finalmente, aceitou a conclusão do IML de São Paulo, no sentido de que aqueles eram, oficialmente, os restos mortais de Sônia Maria de Moraes Angel Jones.”

Abaixo Assinado - Abertura de Arquivos Ditadura - Gloria Pires

Heleni Telles Ferreira Guariba


Militante da VANGUARDA POPULAR REVOLUCIONÁRIA (VPR).

Nasceu em 13 de março de 1941 em Bebedouro, Estado de São Paulo, filha de Isaac Ferreira Caetano e Pascoalina Alves Ferreira.

Desaparecida desde 1971 aos 30 anos.

Professora universitária e diretora do “Grupo de Teatro da Cidade”, de Santo André, São Paulo.

Presa no Rio de Janeiro no dia 12 de julho de 1971, juntamente com Paulo de Tarso Celestino da Silva (desaparecido), por agentes do DOI-CODl/RJ.

Inês Etienne Romeu, em seu relatório sobre a “Casa da Morte”, em Petropólis, denuncia que Eleni esteve naquele aparelho clandestino da repressão no mês de julho de 1971, tendo sido torturada por três dias, inclusive com choques elétricos na vagina.

O Relatório do Ministério da Aeronáutica diz que Eleni foi “presa em 20 de outubro de 1970, em Poços de Caldas/MG, sendo libertada em 01 de abril de 1971...” Já o Relatório do Ministério do Exército afirma que “foi presa em 24 de abril de 1970 durante a Operação Bandeirantes e libertada a 1° de abril de 1971.”

De Ulisses Telles Guariba Netto:



“Casei-me com Eleni Ferreira Teles Guariba em 1962 e nos separaramos judicialmente em fins de 1969. Estudamos na Faculdade de Filosofia da USP-Departamento de Filosofia. Foi um longo namoro. Ambos militávamos na VPR. No final de 1969, após separar-me de Eleni, retirei-me do movimento.

Depois de separar-me vim morar na Rua Maria Antônia. Eleni foi morar nas Perdizes. Tínhamos, então, dois filhos, Francisco e João Vicente, que continuaram morando com a mãe. Eu sempre visitava meus filhos, semanalmente, mantendo, assim, também contatos com Eleni. No início de fevereiro de 1970, em um sábado à noite, Eleni me procurou para dizer que Olavo, seu namorado, tinha sido preso e me pedia auxílio, uma vez que meu pai era general reformado. Eleni pediu também que eu falasse com o Capitão Maurício da OBAN, uma vez que esse oficial havia, anos atrás, namorado com minha irmã, ainda mantendo relações de amizade comigo. Quando procurei Maurício, este confirmou que Olavo realmente estava preso e que era membro da VPR.

Meu pai foi à OBAN pedir que, ao menos, Olavo não fosse torturado, mostrando-se interessado na própria pessoa de Olavo. Com a prisão de Olavo, Eleni deixou a residência das Perdizes, deixando os filhos comigo. Nessa mesma época, mudei-me para a Rua José Antônio Coelho, na Vila Mariana, em São Paulo, em um anexo da casa de meus pais. No início de março daquele mesmo ano o pai de Olavo me procurou, desesperado e contou-me que os órgãos de segurança ameaçavam prendê-lo, bem como a sua esposa e os filhos, pois queriam que eles prestassem informações a respeito do paradeiro de Eleni.

Ela, por sua vez, estava escondida em Serra Negra. O pai de Olavo, contou-me também que, não resistindo às pressões, havia contado onde estava Eleni e que ela havia sido presa, naquele dia, no final da tarde. Diante disso eu e meu pai fomos à OBAN. Fomos, também, procurar o Capitão Maurício, que nessa época prestava serviços ao DOPS. Procuramos, também, delegados do DOPS e todos diziam que não podiam prestar informações a respeito de Eleni. Três dias após, eu e meu pai fomos ao DOPS, à noite, para encontrar Eleni, no Gabinete de Romeu Tuma, então um dos delegados do DOPS. Ela então contou que havia sido torturada pelo Capitão Albernaz. Tinha marcas roxas nas mãos e nos braços, provocadas por choques elétricos. Albernaz havia tido contato conosco antes de torturar Eleni. Fôra, em tal conversa, extremamente simpático. Eleni contou também que estava no início do período menstrual e que, com as torturas, havia tido uma hemorragia, que havia assustado os torturadores, que a haviam retirado da OBAN e enviado ao Hospital Militar, onde ficou 48 horas, tendo naquele dia, sido encaminhada para o DOPS.

Foi solta em fins de abril de 1971, por decisão da própria Justiça Militar.

Ao ser libertada, desejava viajar para o exterior. Ela tinha também a intenção de ajudar familiares de perseguidos e mortos. Ficou uns tempos na casa da mãe e na casa de amigos, enquanto se preparava para a tal viagem. Por volta do dia 25 de julho, recebi um telefonema em casa informando-me que Eleni havia sido presa no Rio de Janeiro.

Meu pai foi para Brasília, bem como ao Comando do I Exército, no Rio de Janeiro, procurando autoridades e amigos. Todas as informações foram no sentido de que Eleni não havia sido presa e que, provavelmente havia embarcado para o exterior...”

Ângelo Pezzuti

Ângelo Pezzuti da Silva
Militante da VANGUARDA POPULAR REVOLUCIONÁRIA (VPR).


Angelo Pezzuti da Silva, nasceu em Araxá, Estado de Minas Gerais, no dia 27 de abril de 1946, filho de Carmela Pezzuti e Theofredo Pinto da Silva.


Cursou o primário no Grupo Escolar “Delfim Moreira” e o ginasial no Colégio “Dom Bosco”, ainda em sua cidade natal. O curso científico, foi feito já em Belo Horizonte, no Colégio “Padre Machado”. lngressou na Faculdade de Medicina da UFMG, em 1964, onde permaneceu até 1968, optando por se especializar em Psiquiatria.


Ângelo tinha um temperamento alegre e extrovertido. Gostava de fazer amizades e cultivá-las.


Desde criança desenvolveu o gosto pela leitura e pelos estudos. Ainda cursando o primário, dedicou-se ao estudo de piano durante 2 anos. O gosto pela música clássica, pela poesia, pelo teatro e pela leitura, principalmente dos autores regionais brasileiros mais intelectualizados e clássicos, acompanhou-o sempre.


Possuía grande fluência verbal, o que facilitava a exposição de suas idéias. Vivia intensamente, como se o momento presente fosse o mais importante. Era senhor de uma ternura especial, mesclada de um certo ar irônico.


Sua militância política iniciou-se, efetivamente, no Colégio Padre Machado, onde participou do curso de alfabetização de adultos. Aí também já sofreu os primeiros “cortes”: foi eleito Presidente da Associação de Alunos e Diretor do Curso de Alfabetização, mas seu nome foi vetado pelo Diretor do Colégio, pelas suas posições políticas de esquerda e questionamentos religiosos.


Na Faculdade de Medicina, de imediato integrou-se ao movimento de estudantes que visava a ampliação de vagas na Universidade Federal de Minas Gerais e a absorção dos chamados “excedentes”. Sua participação seguiu-se no Centro de Estudos de Medicina – CEM, no Diretório Acadêmico, e no “Show Medicina”. Em todas as frentes, lá estava o Ângelo participando.


Em busca de outras alternativas políticas, ingressou na Política Operária (POLOP) e, em 1967, juntamente com outros companheiros (Apolo Heringer e Carlos Alberto Soares de Freitas) constituíram a primeira direção do COLINA (Comando de Libertação Nacional) que tinha como objetivo a luta armada como instrumento de transformação social. Sempre esteve à frente dos grandes projetos da Organização – foi uma liderança intelectual, e participou das primeiras ações armadas desde 1968.


Em 13 de janeiro de 1969 foi preso pelo DOPS, em Belo Horizonte. Inaugura-se, aí, um tempo de passagem por várias prisões: em Belo Horizonte, no Rio de Janeiro e, depois, retornando a Minas, sendo levado para a prisão de Linhares, em Juiz de Fora.


Sofreu, nesta trajetória, vários tipos de tortura física e psicológica. Entretanto, o que mais marcou foi a obrigação de assistir, na Vila Militar do Rio de Janeiro, a uma aula de tortura ministrada pelo Exército para 100 oficiais, onde alguns presos serviam de cobaia e, dentre os presos-cobaias, estava seu próprio irmão, Murilo. Estas aulas eram dadas por diversos torturadores, entre eles o contraventor “Capitão Guimarães”.


Juntamente com outros companheiros de Linhares, elaborou o “Documento de Linhares” denunciando as torturas e suas conseqüências dentro das prisões. Este foi o primeiro documento, no gênero, elaborado no Brasil e encaminhado às autoridades brasileiras que ignoraram o seu conteúdo. Foi amplamente divulgado no exterior.


Em 1970, Ângelo foi banido do país, trocado juntamente com outros 39 companheiros, inclusive seu irmão Murilo, pelo Embaixador Alemão. Ficaram exilados na Argélia.


Em 1971 foi para o Chile, onde se encontrou com sua mãe Carmela, também banida do Brasil por suas atuações políticas. E aí casou-se com Maria do Carmo Brito, com quem teve seu único filho, Juarez, que está com 23 anos cursando Ciências Biológicas na UNICAMP. Carmela vive hoje em Belo Horizonte sendo, ao lado de sua irmã Ângela, os maiores símbolos da fibra desta família na resistência à ditadura.


Em 1972, por seus contatos com grupos chilenos que lutavam pelo socialismo, foi preso e torturado por policiais brasileiros que lá se encontravam, sendo libertado logo em seguida.


Ainda no Chile, batalhou para provar a infiltração do cabo Anselmo nos meios revolucionários brasileiros, tentando convencer os companheiros que Anselmo era um traidor e responsável por várias quedas e mortes.


Em seguida, veio o golpe chileno, o que o levou a pedir asilo na embaixada do Panamá. Sua permanência no Panamá foi curta, indo para a França, onde logo se integrou ao Comitê Brasileiro cujo objetivo era obter asilo na Europa para outros companheiros brasileiros, chilenos, uruguaios que estavam em situação irregular na América Latina. Com esse objetivo, viajou pela Europa fazendo contatos com as entidades de Direitos Humanos.


Em Paris, participava de um grupo de estudos que analisava o movimento his-tórico da América Latina e de grupos de apoio aos presos no Brasil.


Por duas vezes – a primeira no Chile e a segunda na França – Ângelo retornou aos seus estudos de Medicina, conseguindo formar-se, em Paris, em meados de 1975, como Psiquiatra.


No dia 11 de setembro de 1975, Ângelo morreu em um acidente de motocicleta em Paris. Seu corpo foi cremado no Cemiterio Père Lachese onde estão os maiores heróis franceses e, em 1976, trazido para o Brasil. Suas cinzas foram colocadas no Cemitério das Paineiras em Araxá, sua terra natal.


Sobre sua morte, seu amigo Herbert Daniel escreveu:


“... não saberemos se foi seu gosto pela ironia que determinou a escolha da data, aniversário do golpe do Chile. Ângelo escapou da cadeia no Brasil, escapou do golpe no Chile; mas não escapou da sua ânsia de viver demais. Não viveu para ver nenhum resultado. Este é o resumo brutal de todas as mortes provisórias...”


Fonte: http://www.torturanuncamais-rj.org.br/MDDetalhes.asp?CodMortosDesaparecidos=169

Abaixo Assinado - Abertura de Arquivos Ditadura - José Mayer

David Capistrano



(1913-1974): Nome completo David Capistrano da Costa. Nasceu no Ceará. Dirigente do Partido Comunista Brasileiro - PCB. Participou do Levante de 1935, como sargento da Aeronáutica, sendo expulso das Forças Armadas e condenado, à revelia, peloEstado Novo, a 19 anos de prisão. Participou da Guerra Civil Espanhola como combatente das Brigadas Internacionais e da Resistência Francesa, durante a ocupação nazista. Preso em um campo de concentração alemão, foi libertado e regressou ao Brasil em 1941. Em 1945 foi anistiado e, em 1947, eleito Deputado Estadual em Pernambuco. Entre 1958 e 1964 atuou na política pernambucana e dirigiu os jornais "A Hora" e "Folha do Povo". Com o golpe militar, entrou na clandestinidade e asilou-se na Checoslováquia, em 1971. Retornou ao Brasil em 1974, atravessando a fronteira em Uruguaiana, Rio Grande do Sul, em um taxi. David Capistrano foi seqüestrado no dia 16 de março de 1974, no percurso entre Uruguaiana e São Paulo.

David Capistrano
 

Abaixo Assinado - Abertura de Arquivos Ditadura - Eliane

Ana Rosa Kucinski

Ana Rosa Kucinski: 30 anos de mistério

Ana Rosa Kucinski
Ana Rosa Kucinski
"Ana Rosa e Wilson nasceram no ano de 1942 e teriam hoje 62 anos de idade. Tinham 32, quando desapareceram, no dia 22 de abril de 1974, e apenas 4 anos de casados. Viviam, então, um profundo momento de amor, e um compromisso com a luta que se tratava contra o regime ditatorial, que se revelaria fatal.
Seus nomes fazem parte, hoje, da lista do Comitê Brasileiro pela Anistia, ao lado de dezenas de outros ativistas políticos que desapareceram nos subterrâneos da repressão. Enquanto o destino dessas vidas não for esclarecido e as culpas justiçadas, nada garante que tais fatos não se repetirão.
Tirar uma vida, diz a sabedoria hasídica, é o mesmo que tirar milhares de vidas, pois desaparecem também os filhos que nasceriam daqueles que morreram, e os filhos desses filhos, e assim por diante, até o fim dos tempos". (Bernardo Kucinski, irmão de Ana Rosa, pela família)
"Quando, às vezes, fazendo concessões ao sofrimento e tocando em feridas que sangrarão para sempre, me transporto aos anos de 1960-67, vejo-me na casa de Ana Rosa ouvindo e fazendo confidências ao som de uma música clássica. Então, ao lado da amiga-irmã, vivo momentos de intensa poesia. Não que Ana escrevesse versos; sua maneira de ser era um poema.
Lembro-me que o curso que fazíamos exigia de cada um de nós dedicação exclusiva, mas Ana sempre forçou e deixou um espaço para cultivar a música, a literatura e os humanistas. Foi das poucas pessoas que jamais se deixou seduzir pela vida cômoda que poderia Ter usufruindo com um diploma de química, que nos proporcionava amplo mercado de trabalho. Ana Rosa era das poucas pessoas que carregava o peso do mundo. Por isso buscava, ansiosamente, o Amor e a Justiça.
Na busca do Amor tantas vezes caiu e tantas vezes levantou, sem que jamais lhe ocorresse curvar-se perante amor pequeno, porém mais cômodo.
Na busca da Justiça desconheço os caminhos que possa ter trilhado, mas imagino que foram profundamente penosos.
Cada vez que recebo informações sobre o sofrimento daqueles que foram vítimas dos nossos Órgãos de Segurança lembro-me dela e consigo vê-la portando-se com grande dignidade, porque jamais teve medo da morte e do sofrimento.
Buscou e viveu com tal intensidade o Absoluto que quando partiu já era idosa. E se lhe fosse permitido voltar, ela recomeçaria tudo de novo, da mesma forma". (Ignez, colega de Ana Rosa)
"Nós não caracterizamos Ana Rosa como uma jovem superdotada mas como uma pessoa com muita riqueza cultural intelectual e interna. Emocionalmente era de reações muitas vezes agressiva – forma pela qual se manifestava sua grande sensibilidade. (O "escândalo sem motivos" significava na verdade a percepção de coisas que escapavam dos outros). Existencialmente vivia cheia de dúvidas e nulações em função justamente dessa sensibilidade, daqueles que a rodeavam e de suas próprias reações. Sua preocupação permanente era conhecer o mundo (caráter político) e crescer como pessoa (auto-superação). Todas as experiências e leituras se situavam nesse contexto.
Por trás do caráter aparentemente temperamental residia numa moral firme (embora longe de vitoriana). Facetas dessa firmeza moral eram suas posições políticas – desde a política maior até ao relacionamento profissional – e suas amizades – que tinham um grande peso em sua vida – e o fato de nunca se Ter deixado seduzir pela ascensão ao poder – sua postura diante do pessoal da Universidade foi fundamentalmente a mesma desde sua entrada como aluna de 1º ano até seu desaparecimento como assistente-doutor.
Sua cultura era o motivo dos choques com o meio. O ambiente que a rodeava era profundamente conservador e superficial. Deste modo seria difícil a aceitação por parte dessa cultura das percepções intelectuais e humanas manifestadas por Ana Rosa. (E ela não conseguia deixar de manifestar suas opiniões e vivacidade diante dos fatos corriqueiros e notícias de jornais. Em momentos de depressão ela se lamentava não ter criado uma "casca grossa" que lhe permitisse se defender desse meio).
Após 14 anos de convivência diária na Universidade seu desaparecimento não causou grandes episódios de inconformismo.
Esse fato demonstra a consciência (ou inconsciência e impermeabilidade humana) do ambiente de trabalho. A inconsciência foi além do mero conformismo pois não provocou nenhuma atitude de procurar saber o que realmente lhe aconteceu.
Assim como não haviam assimilado ou sequer interagido com sua personalidade não se responsabilizaram socialmente por seu destino". (Sérgio e Lourdes, colegas de Ana Rosa)
"Março de 1961. No velho casarão da Alameda Glete, no seu jardim com um banco só, reinava um clima de euforia, suspense e expectativa. Era o dia do famoso Colóquio Geral, para argüir veteranos e principalmente os calouros. Chegada a hora, dirigimo-nos todos ao anfiteatro e nós calouros estávamos mais nervosos do que no dia do vestibular. Um a um, fomos sendo chamados para frente e voltávamos ao lugar humilhados e convictos de nossa burrice e ignorância. Era a vez de uma certa caloura alta e magra, cabelos curtos acastanhados chamada Ana Rosa Kucinski. Levantou-se, mas, no mio do caminho eis que ela tem um desmaio e cai ao chão. Correm os veteranos para socorrê-la e carregam-na para fora.
A turma achou mais tarde que foi um desmaio simulado, mas que sem dúvida servia, naquele momento, para a distensão do ambiente.
E assim, ela sempre enfrentou as diferentes situações à sua moda e a sua forma característica de situação manteve-a como uma figura notória dentro do fechado e austero universo da Química...
Naquelas tardes de domingo de 1963, quando tínhamos relatórios para elaborar o nosso grupo costumava se reunir na casa de minha mãe, que passou a ser conhecida como a "Pensão", pois, além de próxima à escola, oferecia boa comida, que era o nosso único lenitivo.
Geralmente, quem primeiro chegava era a Ana Rosa, reclamando muito dos f. d. p. que não haviam chegado ainda, pois ela sempre tinha pressa em terminar cedo a tarefa para ver se sobrava tempo de pegar um teatro ou um cinema.
Foi na "Pensão" que Ana Rosa passou a apreciar comida japonesa. Não tinha receio de provar coisas novas e até "sashimi" (peixe cru) chegou a experimentar. Mas do que ela gostava mesmo era do tempurá (camarão empanado). Porém, ela que comia pouco, estava em luta permanente com a "dona da pensão" que fazia questão que todos comessem muito e a Ana Rosa para se fazer entender e se impor, passava até a falar com sotaque.
Depois de um dia exaustivo, não tínhamos disposição para mais nada, mas lá ia a Ana Rosa para outros programas, pois ela sempre conseguiu conciliar as atividades escolares com as atividades culturais e artísticas, não ficando absorvida e enquadrada no ""mundo da Química", pois tinha o espírito aberto, arejado, inquieto e curioso por tudo que ocorria no mundo exterior". (Kazuyo, um dos melhores amigos de Ana Rosa)
"Queria fazer um agradecimento especial a Ana Rosa Kucinski, responsável direta pelo processo de separação química do Índio, trabalho que custou cerca de 1 ano de pesquisas e ao qual ela se entregou inteiramente até conseguir o resultado final.
Ana Rosa deveria ainda ajudar-nos no projeto inicial desse trabalho que era um estudo de reações fotoalfas em vários elementos, a maioria exigindo processos de separação química.
Numa manhã de trabalho habitual, Ana Rosa não apareceu. Procurada não a encontramos. Continuava não aparecendo, continuávamos a procurá-la e não a encontrávamos. Nada mais normal que comunicar então o fato às autoridades e aguardar a versão oficial. Daqui para frente é difícil continuar a história. Não houve versão oficial que nos deixasse tranqüilos, muito pelo contrário, ficamos mais intranqüilos ainda.
Ana Rosa continua desaparecida. Quem sabe um dia, pelo menos seu corpo apareça para a última homenagem dos seus pais, irmãos e amigos". (Da introdução à tese de mestrado de Engles Anastacio Finotti, sobre os estados isoméricos do Índio, apresentado ao Instituto de Física da USP, em 1979)



Para sua saúde: Ovos !!!

Consumir ovos é benéfico à saúde
Colesterol contido nos ovos não faz mal ao organismo e pode até prevenir doenças
Por Especialistas

Se você só come a clara do ovo, pode esquecer esse hábito. O ovo inteiro é um dos mais consistentes alimentos com que podemos contar para tornar nossa dieta mais saudável. Décadas atrás, alguém decidiu que o colesterol dos ovos, encontrado principalmente em sua gema, contribuía para o desenvolvimento de uma série doenças cardíacas e para o aumento daobesidade. Essa pessoa errou feio.

O pior disso tudo é que os desavisados engoliram a lorota e passaram a evitar esse alimento. Quem está perdendo com isso é a saúde desses indivíduos. A gordura de ovos, ao contrário do que ainda dizem por aí, é do tipo bom, e previne uma série de complicações em todo o organismo. 

"O ovo é uma boa fonte de colina, que protege o sistema cardiovascular de ataques cardíacos, coágulos sanguíneos, derrame."

O ovo é a melhor fonte de luteína e zeaxantina que existe. Esses nutrientes são essenciais para a manutenção da saúde dos olhos e servem também para facilitar o tratamento de doenças nesses órgãos. Na verdade, muitos estudos atuais têm mostrado que consumir um ovo por dia pode ajudar a prevenir a degeneração macular e diminuir o risco de desenvolver catarata. O ovo é também uma boa fonte de colina, que protege o sistema cardiovascular de ataques cardíacos, coágulos sanguíneos, derrame. 
Mesmo que o ovo seja um bem feitor ao organismo, é preciso cuidado na hora de prepará-lo antes da refeição. Evite comer ovos fritos, pois a gordura em que eles são feitos pode trazer alguns malefícios ao organismo, como o aumento de colesterol.. As melhores opções são os ovos quentes, cozidos e em gemada. Com esses métodos de preparo, os ingredientes que fazem bem do ovo continuam intactos, enquanto o acréscimo de gordura de outras fontes não ocorre.  
Saiba Mais
Ao comprar os ovos, vale à pena gastar um pouco mais e escolher os orgânicos ou ovos de galinhas criadas soltas, e não daquelas que ficam confinadas. Essas opções têm melhor qualidade e também mais confiáveis. Normalmente o ovo orgânico possui a gema mais consistente e terá de uma cor laranja brilhante.

Os ovos de galinhas confinadas podem sair mais barato, mas quase sempre apresentam baixa qualidade, com gema amarelo-pálida, mais frágil, que se quebra facilmente. A verdade é que você ingere o que você compra, e vale à pena gastar um pouco mais para ter mais saúde. Fica a dica.

Super saúde!

Dr Wilson Rondó
            Especialidade: Medicina Ortomolecular e Nutrologia


Um Psicopata Chamado Bruno !


Goleiro Bruno diz acreditar que Eliza ainda esteja viva

O goleiro Bruno Fernandes disse hoje que acredita que sua ex-amante, Eliza Samudio, esteja viva. Réu no processo sobre o desaparecimento da jovem, o ex-goleiro do Flamengo conversou pela primeira vez com jornalistas após uma audiência no Fórum de Esmeraldas, na região metropolitana de Belo Horizonte. Bruno alegou que ele e os outros réus estão sendo injustiçados e afirmou que confia que será inocentado e voltará a jogar profissionalmente.
Ele e outras oito pessoas foram acusados pelo desaparecimento e morte de Eliza. O corpo da jovem não foi encontrado. A motivação seria a pensão exigida por Eliza, que teria tido um filho com Bruno. "Da última vez ela falou que ia para São Paulo e ponto. Eu não sei dizer mais nada sobre essa pessoa". O goleiro negou que tivesse cedido material genético para um exame de DNA que comprovaria a paternidade da criança. "Esse material não foi concedido, mas se precisar hoje ou amanhã fazer um exame de DNA, com certeza eu vou liberar esse material", falou.
Questionado, Bruno disse que o suposto valor de R$ 3 mil mensais que teria sido exigido por Eliza, "não é nada" para ele". Se dirigindo aos antigos fãs, pediu um voto de confiança, "porque mais cedo ou mais tarde a verdade vai vir à tona". "As pessoas que conhecem a pessoa Bruno sabem da minha índole, sabem do homem que eu sou. Eu tenho duas filhas. Se essa criança realmente for minha, onde come um, comem dois, comem três. Eu vou amá-lo do mesmo jeito que amo minhas filhas", disse.
O goleiro reclamou do cumprimento da prisão preventiva. "Vocês têm que analisar o que está sendo feito com a gente, que na minha opinião é uma injustiça. Vocês veem vários outros casos que acontecem e nada, os carasestão soltos. Agora, você vai ao Fórum de Contagem e vê o absurdo que está sendo feito. Desculpe a palavra, mas é uma sacanagem".
Juíza
Bruno havia sido proibido de dar entrevista pela juíza Marixa Fabiane, do 1º Tribunal do Júri, de Contagem. Hoje, após a sessão em que foram ouvidastestemunhas - acompanhada por todos os réus - a juíza de Esmeraldas, Maria José Starling, surpreendeu ao defender a soltura do goleiro. "O Bruno teria de estar solto", disse. "Num dia disseram 'ele estava' (na suposta cena do crime), depois disseram 'não, ele foi embora'. Está um vai e vêm nesses depoimentos", afirmou, cobrando mais evidências do crime nos autos.
"Todos os traficantes que mandei prender em Esmeraldas estão soltos. Aquele namorado da Mércia (Nakashima), um advogado, está solto, e lá tem evidências, tem corpo". Considerado o braço direito de Bruno, Luiz Henrique Romão, o Macarrão, também falou com os jornalistas ao final da audiência e disse que Eliza queria "acabar com a vida" do amigo. "Ela falou que ia acabar com a vida do Bruno, mas ela está acabando com a vida de nove pessoas. Eu só queria que ela aparecesse porque todo mundo sabe que ela está viva. Eu tenho certeza que ela está viva", disse.

Beijo Sem